Penso em mim como
algo inferior a um amador na época em que comecei, mas tudo depende de tempo e
experiência. Não estaria onde estou se não tivesse começado quando mal sabia o
que fazia.
Ela caminhava de manhã
todos os dias, era uma rotina tão automática que jamais se quer encontrou meu
olhar. Usava uma roupa de ginástica rosa claro e uma camisa branca embaixo da
jaqueta que combinava com seu tênis. A mulher parecia comum, mas se destacava
naquele dia chuvoso de cenários acinzentados de um dia nublado.
Comecei a correr
alcançando seu ritmo.
- Bom dia!
Ela olhou meio
assustada, não que não devesse.
- Bom dia.
Basta algumas
palavras para as pessoas simpatizarem com você, sempre era assim. O ser humano
é inocente e apesar de ler nos jornais sobre as coisas que acontecem, ele
jamais pensa que pode acontecer com ele mesmo.
- Quer chegar? Minha
casa é aqui, tome um café comigo, estou sozinha.
Já tínhamos terminado
o parque e estávamos na frente de uma casa de madeira que aluguei. Detalhes
planejados para o dia especial.
- Não sei, não me sinto
à vontade.
- Não se preocupe com
isso, faça o que está com vontade hoje. – Carpe Diem, quase dizia.
Ela entrou e coloquei
a vitrola para tocar músicas antigas. A banda da 26ª. O chá logo fez efeito
e então a amarrei na cadeira de madeira, ela não coseguia fugir.
- Vou cortar uma
mecha de seu cabelo para guardar.
Seu cabelo loiro
escorria pelas costas, era descolorido e um pouco maltratado. Ela não
aparentava ser tão jovem quanto realmente era. O óleo já fervia no fogão
Seu olhar era triste
e desesperado. Ela já não tinha esperança de sair da casa antiga, sabia que
era uma questão de tempo para tudo acabar, mas também sabia que aqueles eram os
mais longos minutos da sua vida. Seu olho ainda estava aguado, mas ela já estava
tendo algumas alucinações, ficava observando a prateleira de madeira velha e
escura no canto, que não possuía muitos objetos domésticos. Quem olhava a casa
de modo geral, à primeira vista, não repara que a casa não era usada por muito
tempo.
- Assim você esconde
a sua beleza.
Ela apenas olhou para
mim, devagar, como quem pedia piedade inconscientemente. Estava
raciocinando lentamente as coisas por causa do boa noite cinderela.
Tirei o pano que
havia amarrado em sua boca e despejei o óleo quente em sua garganta, seus olhos
se esbugalharam e a fumaça que saia de sua boca me dava prazer. Conseguia
imaginar o óleo quente corroendo seus órgãos internos dolosamente.
Assim que senti que
ela estava imóvel, retirei ela da cadeira e tirei suas roupas. Coloquei uma
lingerie rosa e passei batom vermelho. Ela estava linda, conquistaria o amor de
sua vida, se já não houvesse conquistado. Retirei a aliança de seu dedo - seu
compromisso agora estava quebrado, ela estava livre. Retirei minhas luvas,
guardei-as na bolsa e observei novamente ela deitada na cama de canos de metal
creme, em cima de um lençol branco, como se esperasse seu marido naquele quarto
vazio. Abandonei a casa.
Com o estilhaço da
porta que anunciava a chegada do jornal, acordei e li minha manchete. Existia
alguém por perto à minha altura, a curiosidade me fez querer averiguar o caso.
“Esposa de homem
assassinado noite passada é dada como desaparecida”.