segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Movimento retrógrado


 Escrito em: 29/10/2012

 Lembrava-me das muitas palavras já ditas, que embora acabadas, não haviam morrido para mim. Palavras permaneciam em minha memória de um modo que somente eu poderia saber, algumas frases já decoradas, outras guardadas com um carinho não mais explicado.
 Lembrava-me também de alguns olhares escondidos, do que para os outros era desconhecido, do que por vezes se tornava um perigo, se tornava uma aventura de risco.
 Lembrava-me do acontecido, do segredo sem sentido, do que eu queria ter esquecido. Lembrava-me das coisas que eu gostava de lembrar, das coisas que tornavam tudo mais divertido, do seu sorriso.
 Lembrava-me de tudo, menos do que eu deveria lembrar. Lembrava-me da pessoa que eu conheci, menos da que eu descobri ser. Lembrava-me de todas as partes boas que aconteceram, lembrava-me de tudo o que era positivo, menos do fato de que quem eu conheci era um néscio enrustido.
 Pensava sobre as coisas que eu poderia fazer, sobre coisas que eu poderia dizer, menos no que eu deveria calar, no que eu deveria deixar. Pensava no que eu queria que fosse, menos no que realmente era e eu jamais conseguia me convencer de que eu simplesmente não deveria fazer mais nada.
 Quando meu saudosismo deveria apenas deixar eu convencer-me de que escrever palavras que descreveriam quem conheci e imaginar uma forma de como lhe extinguir em uma nova história apenas aparentaria contradizer o que eu devo de fato sentir por você.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Just die


Escrito em: 22/10/2012

 A respiração estava ofegante e eu podia sentir que seu coração batia rápido. Era tudo tão simples, ou pelo menos parecia. Passei a mão na cabeça. Observei.
A vida passava como um piscar de olhos e eu podia imaginar todas as lembranças de coisas que aconteceram, todas as esperanças de coisas que estavam para acontecer e as expectativas. Objetivos de vida, tudo tão concreto, tão forte.
 Não era assim que as coisas deveriam ser. Deveria existir suspense, desafios, surpresas que fariam as coisas se tornarem mais emocionantes.
 Um grito percorreu toda a casa desesperado por ajuda, implorando para não perder tudo o que havia construído. Tudo tão concreto. Tudo tão concreto que perdia seu sentido. O que eu fazia era para o seu bem, mas parecia que eu não merecia compreensão.
 O mundo é mais belo com seu sono profundo.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A beautiful day to die

 Sangrava. Como uma veia arrebentada e de lá escorria, vermelho e forte. Já não conseguia enxergar, tudo a minha volta se embaçava. Era assim que me sentia.


Escrito em: 09/2012

- Te desafio a ir lá agora!
- O que eu ganho com isso?
- Depois você pode escolher, mas tem que entrar sozinho.
- Não tenho medo.
 A aposta mais fácil de ganhar que já participaria. Caminhamos até o lugar. A noite estava quente e o céu aberto, as estrelas gritavam palavras não compreendidas. O quintal da frente possuía muitas pragas e o mato alto estava seco, obra do calor que fazia. Abri o portão que estava enferrujado e rangiu.
 Entrei e percebi que o lugar estava caindo aos pedaços, não possuía cômodos e sua arquitetura era antiga. Caminhei até a escada de madeira grossa e escura. Minha lanterna falhou e cada degrau que eu subia parecia ser mais barulhento, parecia diminuir a temperatura e me provocar calafrios. Presença que descia com intensidade e por todo meu corpo percorria.
 Cheguei ao segundo andar e não me senti muito bem. Não por medo, pela sensação causada pela menor temperatura e pela poeira depositada em todos os cantos. Ele havia chegado.
 Sangrava. Como uma veia arrebentada e de lá escorria, vermelho e forte. Já não conseguia enxergar, tudo a minha volta se embaçava. Era assim que me sentia.
 Não sabia se aquilo era a realidade. Prendia-me na dúvida entre uma aventura que a bebida havia me proporcionado ou o simples fato de vivenciar da brincadeira de um submundo que surgia, de uma besta que ultrapassava as grades do inferno e as regras da normalidade, uma aberração do mundo que se conhece.
 Minha perna estava quebrada e eu não conseguia olhar, eu sabia que meu osso estava exposto e eu não conseguia olhar, só conseguia pensar em tentar não desmaiar.
 Da presença que me ultrapassara eu tinha ciência. Era tudo tão real quanto a própria vida, pelo menos em minha memória não tão sã. Aquilo era a morte que acordava para brincar.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Bancos de Ninguém

 Este poema foi escrito pensando em um ensaio fotográfico que está sendo realizado por mim sobre bancos, confira o link do flickr



Uma história sobre bancos,
objeto não reconhecido por seus usantes;
abriga enamorados recobertos sob seus mantos,
ouve pessoas discutindo sobre assuntos frustrantes.

O que no banco resta quando todos somem às pressas?

Constrói memórias dos que estavam de passagem,
se lembra de encontros marcados,
alívia quem levava uma bagagem;
guarda histórias dos momentos passados.

O que fica marcado quando o banco é deixado?

Um banco só, um algo que não possui dono.
Observa das pessoas o transitar,
talvez guarde algum sonho - ou sono.
Lembra de alguém no tumulto se calar.

O que o banco tem quando já não tem ninguém?

Um banco que tantas luas guardou,
que de tantas lágrimas uma lhe escorreu,
tantos sóis aguentou;
viveu tanta vida, que agora, mesmo viva, já morreu.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

terça-feira, 28 de agosto de 2012

This will be all over soon


Escrito em: 08/2012

 O sol parecia um enorme borrão claro e forte, como na maioria dos dias de verão, e ao seu lado cintilavam os reflexos como estrelas do meu dia, do mundo que eu vivia.
 Fui em direção a uma pedra perto de uma pequena praia que estava deserta. Cruzei minhas pernas. Um homem chegava.
 Dançava o vento que tentava roubar meus cabelos. Eu sentia algo como um fuzil a me ultrapassar e queimar-se por pensamentos, o pensamento que idealizava, o pensamento de que me queria.
 Esmeraldas que penetravam em mim, que me despiam aos poucos e guiavam-se seguindo o instinto, seguindo o cantarolar que saía de meus lábios - hipnotizado.
 Caminhava pelas águas sem se importar com suas roupas, com sua camisa branca que ficava transparente. Sem pensar em mais nada. Sem notar quem eu era.
 Esta era minha função, afogar homens que se perdiam por mulheres que não podiam ter - e eu gostava. Me apreciava com cada milímetro de água que subia em relação ao seu corpo, ansiava por cada segundo que faltava para que se afundasse e assim terminasse a dor que trazia a sua existência.
 Dei um sorriso de canto ao perceber que seus olhos ainda estavam fixos nos meus, como se achasse que poderia me conquistar. Uma ilusão idealizada em perfeição para que os homens sonhassem, depois caíssem em tentação e se encontrassem na realidade em que nada que é perfeito existe ou que se algo existe, não é perfeito.
 Assim terminou sua dor ao não poder mais respirar. Acabou como se fosse ele que queria aquilo. Seu corpo se perdia na imensidão das águas, um alguém sem rosto.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

De Arrepiar



Escrito em: 23/08/2012

 Dois passos. Paro. Respiro fundo. Continuo.
 "Eu não consigo! Droga!"
 Viro para trás. Meu coração acelera, minha respiração continua forte. Passo a mão no meu cabelo. Continuo.
 Passo a mão no rosto como se fosse me ajudar em alguma coisa, como se fosse me ajudar a pensar. Respiro fundo.
 "Eu não deveria ter medo, eu esperei muito tempo por isso."
 Paro. Respiro fundo. Penso em nada.
 "Eu não vou bater, eu vou voltar para casa!"
 Respiro fundo. Passo a mão no rosto. Olho para a porta.
 "Não, eu vou entrar!"
 Continuo. Bato na porta.
- Oi! Você está aqui, não acredito!
 Sorrio. É inevitável cair em seus olhos, se apaixonar com alguém assim. É inevitável imaginar como seria se tudo realmente desse certo. Eu queria tanto aquilo, esperava tanto por aquele momento.
- Oi!
 "Hora de parar de sorrir. Será que eu devo dar um abraço?"
 Mergulho em pensamentos em que um gelo desce pelas minhas costas devagar, rasgando minha pele. Um calafrio percorre meu corpo e para em minha barriga. Nossos lábios se tocam impacientes, quase desesperados.
 Sorrio. Me aproximo e toco em seu rosto. O desejo é lento, mas forte. Você acredita em sonhos?
 Acordo. Sorrio.
 "De novo?!"

                                                                                  Melissa Ribas Moura

terça-feira, 14 de agosto de 2012

No final era somente um momento saudosista


 Escrito em: 14/08/2012

 Algo sobre meu passado era o que queria escrever, algo sobre os momentos que vivo repetindo em minha mente e desejo jamais ter saído deles. Penso em escrever sobre eles pensando no presente; ou no futuro. Penso em escrever querendo ter outros momentos como aqueles, para voltar a repetir essas coisas boas em minha mente. Somente para me lembrar de que existem coisas boas.
 Algo sobre soldados, algo sobre bebidas, algo sobre sentimentos. Coisas que foram jogadas aos ventos. Tormentos, talvez, que compõem meu masoquismo psicológico. Novamente o paradoxo que move meu mundo, ao fundo; maldito Raimundo! Algo anteriormente já dito sobre sete faces em um poema, algo que Drummond já tentava me explicar.
 Algo sobre saudosismo, paradoxo e masoquismo.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

domingo, 29 de julho de 2012

Verdade ou Desafio? Caso 2 (27)

Ingloria Posta: Verdade ou Desafio? Caso 1 (44)


 Vermelho é a cor do poder, a cor que me fazia querer mais o que eu gostava de fazer, era a minha sinestesia, o cheiro que me provocava. Vermelho é a marca que me prende a morte, a cor que destaca a noite e retira seu silêncio.

 Dirigia em uma velocidade moderada enquanto cantava acompanhado o rádio, músicas que simplesmente sabia a letra, mesmo sem saber seus nomes. Tudo estava tranquilo e minha mente se disperçou em pensamentos que eu gostaria de fazer naquele exato momento. Um homem na estrada parecia bom, era o que eu queria fazer. Eu precisava satisfazer minha necessidade imediatamente, minha ansiedade fazia com que eu não prestasse atenção na direção.
 Desci do carro e conversei com um desconhecido que estava na frente do que parecia uma casa de festas, parecia um pouco bêbado. Ele tinha cabelo cacheado e um pouco comprido, era alto o suficiente para que eu parecesse inofenciva para ele.
- Aceita uma carona?
 Quem não aceitaria? Parei em um acostamento no começo da rodovia e vesti luvas de couro. Deitei ele no banco de trás e o beijei. Uma pena eu não ter sentimentos por ele, quem sabe até poderia deixar ele viver.
 Rasgando sua camisa podia ver seu corpo magro e o perceber que ele não raciocinava, ele tirou o tênis e eu puxei sua calça. Fiquei somente olhando para ele admirando seus olhos castanhos pequenos e com traços orientais, ele não entendia o porquê eu havia parado, dei risada. Saí do carro e ele veio atrás.
- Você não devia sair com qualquer mulher que oferece carona.
- Não estou entendendo
- Você é muito bonito, sabia?
 Levemente peguei seu pescoço, fixei meus olhos em seus olhos e sorri. Ele olhava para mim ainda sem entender qualquer coisa do que vinha a acontecer. Por que os homens subestimam tanto as mulheres? Nem todas são frágeis, feitas de porcelana e quebráveis com qualquer coração partido. Nem todas são feitas para sofrer, algumas foram feitas para fazer sofrer.
 Quebrei seu pescoço, um ser tão frágil, tão belo. Deitei ele no acostamento vestindo apenas sua cueca samba canção. Deixei meu batom vermelho em sua mão.
 Olhei para trás, sorri. Era quase uma obra de arte impecável, um modelo deitado na estrada esperando seus fotógrafos, esperando a capa do jornal do dia seguinte, ele era a minha atração.
 Eu usava sandálias vermelhas cor de sangue.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Sobre a teoria da montanha-russa


Escrito em: 02/07/2012

 Olhava baixo enquanto caminhava por ruas quase desertas, o azul do céu já não chamava mais a atenção, não roubava olhares alegres que se espantariam com a sua presença. O pensamento já não parava em lugar algum e, ao mesmo tempo, só se direcionava para um algo em específico.
- Há quanto tempo não o vejo! - dizia.
- Como vai você?
 Conversas clichês - geralmente não levam a lugar algum. Geralmente servem de iniciativa desinteressante de alguém que abre a possibilidade para que esta possa se mostrar interessante.
- Posso entrar?
 Havia aquela certa mudança de humor que levava a uma teoria popularmente chamada de "montanha-russa", mas não era divertido, como andar em uma montanha-russa, era angustiante e instável. Não era algo seguro a que se apegar e tornar parte de sua rotina.
 Um lugar os uniu para que a conversa, de início boba, começasse. Ainda não sabia se era uma boa hora, não sabia em qual parte da montanha-russa estava. Sentimentos reprimidos que cultivava para si.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

sexta-feira, 29 de junho de 2012

What floor?


 
Escrito em: 29/06/2012

 O que eu deveria dizer? Simplesmente nada, talvez o nada fosse o que instigasse a existir um pensamento sobre o que não foi dito. O que elevadores não podem dizer em nenhum andar, o que fica entre linhas, o que não fica em nenhum lugar.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

domingo, 24 de junho de 2012

Nonsense


Escrito em: 24/06/2012


 De tantas coisas que aconteceram com o passar do tempo, parece que nada mudou, que nada fez diferença, que certas coisas foram em vão e que já não há muito mais o que fazer pelo tempo perdido. Parece que eu só queria que as coisas fizessem sentido.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Over and over again


Escrito em: 18/06/2012

 E é aqui, em meio a inúmeros problemas, a diversos compromissos, deveres não cumpridos e jogados fora pela minha falta de concentração, pelo meu sentimento de que quero outra coisa para mim, que me perco em pensamentos que não devia e nem mesmo queria. Me perco em um mundo onde nada do que devo é o que eu gostaria de dever, em um mundo de uma enorme incerteza que me apresenta uma esperança fraca e ao mesmo tempo forte, onde o paradoxo da minha vida se apresenta de um modo que só consigo pensar: A partir de hoje tudo o que vivo pode mudar.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Verdade ou desafio? Caso 0 (26)


Penso em mim como algo inferior a um amador na época em que comecei, mas tudo depende de tempo e experiência. Não estaria onde estou se não tivesse começado quando mal sabia o que fazia.

 Ela caminhava de manhã todos os dias, era uma rotina tão automática que jamais se quer encontrou meu olhar. Usava uma roupa de ginástica rosa claro e uma camisa branca embaixo da jaqueta que combinava com seu tênis. A mulher parecia comum, mas se destacava naquele dia chuvoso de cenários acinzentados de um dia nublado.
 Comecei a correr alcançando seu ritmo.
- Bom dia!
 Ela olhou meio assustada, não que não devesse.
- Bom dia.
 Basta algumas palavras para as pessoas simpatizarem com você, sempre era assim. O ser humano é inocente e apesar de ler nos jornais sobre as coisas que acontecem, ele jamais pensa que pode acontecer com ele mesmo.
- Quer chegar? Minha casa é aqui, tome um café comigo, estou sozinha.
 Já tínhamos terminado o parque e estávamos na frente de uma casa de madeira que aluguei. Detalhes planejados para o dia especial.
- Não sei, não me sinto à vontade.
- Não se preocupe com isso, faça o que está com vontade hoje. – Carpe Diem, quase dizia.
 Ela entrou e coloquei a vitrola para tocar músicas antigas. A banda da 26ª. O chá logo fez efeito e então a amarrei na cadeira de madeira, ela não coseguia fugir.
- Vou cortar uma mecha de seu cabelo para guardar.
Seu cabelo loiro escorria pelas costas, era descolorido e um pouco maltratado. Ela não aparentava ser tão jovem quanto realmente era. O óleo já fervia no fogão
 Seu olhar era triste e desesperado. Ela já não tinha esperança de sair da casa antiga, sabia que era uma questão de tempo para tudo acabar, mas também sabia que aqueles eram os mais longos minutos da sua vida. Seu olho ainda estava aguado, mas ela já estava tendo algumas alucinações, ficava observando a prateleira de madeira velha e escura no canto, que não possuía muitos objetos domésticos. Quem olhava a casa de modo geral, à primeira vista, não repara que a casa não era usada por muito tempo.
- Assim você esconde a sua beleza.
 Ela apenas olhou para mim, devagar, como quem pedia piedade inconscientemente. Estava raciocinando lentamente as coisas por causa do boa noite cinderela.
 Tirei o pano que havia amarrado em sua boca e despejei o óleo quente em sua garganta, seus olhos se esbugalharam e a fumaça que saia de sua boca me dava prazer. Conseguia imaginar o óleo quente corroendo seus órgãos internos dolosamente.
 Assim que senti que ela estava imóvel, retirei ela da cadeira e tirei suas roupas. Coloquei uma lingerie rosa e passei batom vermelho. Ela estava linda, conquistaria o amor de sua vida, se já não houvesse conquistado. Retirei a aliança de seu dedo - seu compromisso agora estava quebrado, ela estava livre. Retirei minhas luvas, guardei-as na bolsa e observei novamente ela deitada na cama de canos de metal creme, em cima de um lençol branco, como se esperasse seu marido naquele quarto vazio. Abandonei a casa.

Com o estilhaço da porta que anunciava a chegada do jornal, acordei e li minha manchete. Existia alguém por perto à minha altura, a curiosidade me fez querer averiguar o caso.
“Esposa de homem assassinado noite passada é dada como desaparecida”.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Sobre o garoto do segundo andar


Escrito em: 11/06/2012

 Das brincadeiras vou lembrar de seus olhos cor de mel, de seu cabelo bagunçado que lembro ter mexido. Se eu pudesse voltar e reviver aquele momento só por um tempo, só para olhar aquele garoto tímido mais uma vez.
 Capitu não oblíqua nem dissimulada, que conhece seu Bentinho, quem sabe um pouco casmurro, que seduz ele até Gramado, sob a luz da juventude, ou é seduzida até o porto. Talvez, quem sabe, ainda reste alguma verdade no fundo de um jogo estulto de sedução.
 Quando se trata de tempo, não importa se é 35 ou 19, se a música tem seu nome ou é para você, se existirá um casamento, ou apenas uma aventura. O importante é se o tempo é com o garoto do segundo andar.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Singular


  Escrito em: 07/06/2012

 Trocava de roupa com uma rapidez quase desesperada, não encontrava nada que lhe agradace. Meia calça, tênis, sandália, vestido. Procurava algo que a fizesse se sentir bem, que atraísse alguém. Por fim, decidiu-se e pôs a se arrumar.
 Acordara tarde, chovia e nada entusiasmava, não estava pronta. Ao se encontrar, parecia que a noite iria melhorar. O que tinha a perder? Se não fosse, dinheiro.
 Ele não estava lá e a música o substituia, dançava, sorria. Achava ter visto miragens, talvez, coisas que não devia, talvez coisas que agora todo mundo sabia. Boatos, beijos, bebida. Todos se divertiam, alguns mais do que deviam. Pausa para não ficar mal, não de embriaguez, para ela, para que o mundo parasse de rodar após 5 segundos, para alguns.
 Tudo havia mudado, em pouco tempo muita coisa acontece, muita coisa se perde. Conversas, caídas, cantadas. Ninguém já importava. A noite em si era o que tudo mudava, marcava. Se arrepender? Que nada, ele até podia, ela não mudaria nada.
 Fugia... Da solidão, da imensidão, dos pensamentos. Lembrava da primeira semana, encantava com seu sorriso, olhos castanhos profundos que atraíam. Era o que queria, sete minutos no paraíso.
 Alguns mudariam muitas coisas. Palavras, mágoas, exageros. Ela não mudaria... Nada.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Madrugada


  Escrito em: 04/06/2012

 Que faz na madrugada? Se não apaixonada, se não deprimida, se não pela insônia atormentada. Que faz que não descança... De todas suas lembranças, de todo seu nervosismo, de todo seu pensamento que te leva ao inferno, criança?

                                                                                  Melissa Ribas Moura

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Angels lie to keep control


  Escrito em: 01/06/2012

 A luz do horizonte retrata de longe o que não se vê, um sentimento aflora, mas eu nem quero saber. Meu coração está muito fechado para existir, já não funciona como deveria funcionar, ele já não existe se não em outro lugar.
 Não que eu não sinta por te machucar, quem sabe algo que não se pode ver. Estou muito ocupada para me importar. Sentir algo é um privilégio.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

terça-feira, 29 de maio de 2012

Só para saber o final


 Escrito em: 29/05/2012

  Seja como for, fica aí por perto, só para ver no que vai dar, só para constar o que não consta em um papel. Fica. Só para saber o final, só para desenvolver um meio, só para planejar e realizar uma ideia. Fica, só por ficar, não precisa ser por um motivo só, fica só porque você quer ficar. Fica para você poder sonhar, fica para você poder viver, fica para você ver que tem certas coisas que você pode viver e parecer um sonho.
 Não vai para longe não, não vá perder a melhor parte.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Damn, those eyes...


Escrito em: 28/05/2012

 Seus olhos se perderiam na escuridão se não brilhassem com cor de menta, que me tentavam a seguí-lo sem pensar em absolutamente nada. Só seguir.
 O garoto passava, ainda estava um pouco longe, meus olhos se voltavam para ele e eu quase não piscava. Quem era o garoto que passava e que me seduzia sem mesmo tentar?
 Em um mundo paralelo eu pararia ele e pegaria em seu pescoço, falaria alguma frase clichê e impactante e o beijaria. Na verdade, eu não pensaria, talvez nem reparasse que seu cabelo era meio ondulado ou que usava um alargador 12mm prata. Em meu mundo, eu o conheceria.
 As ruas estavam vazias, não passavam carros por perto e a calçada ainda estava molhada. Algumas gotas caíam do telhado das lojas. O que me prendia? Dele. Me prendia em mim. O mundo me fez ser alguém que teve de se prender. Eu não vivia em um mundo paralelo.
 Eu não tive tempo, mas o verde me guiou para ele, para um lugar que achava ter perdido.
 Eu olhei, ele olhou. Eu passei...
 Ele passou.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

sábado, 26 de maio de 2012

I'd Like Some Coffee, Please


  Escrito em: 25/05/2012

 Tomei doses de café só pra te procurar, saber como você está. Mergulhei em um imaginário que não parecia só solidão, era uma ilusão.
 Queria só me desculpar pela falta de saber o que falar, não que eu tenha um discurso pra me explicar.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

quinta-feira, 24 de maio de 2012

I don't really care about the world


Escrito em: 24/05/2012

 Nada fiz por merecer, nada tive pra receber, nada mais do que justo. Não acredito que eu insista o suficiente, não acredito que eu mereça. Nem que eu conseguisse, não nasci pra isso e nem acho que vá chegar lá. Talvez eu só precise de algo que está muito longe de mim, algo que não vá conseguir fácil, algo que é provável que eu nunca consiga.
 Eu só preciso não precisar, só queria não querer, só queria hoje não querer mandar tudo se foder.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

domingo, 20 de maio de 2012

Quem sabe alguém saiba


Escrito em: 06/05/2012

 Quando eu percebo, por um segundo eu pensei em você, e eu nem sei por quê. Sei que pensou. Eu nem sei se algo faz sentido, se tem algum motivo, se as palavras significam algo ou se é só uma brincadeira da minha mente. Quem sabe se alguém souber.
 Um pensamento é tão errado? Não precisa significar algo. Embora eu ache que devesse significar, eu não quero, só pra não sonhar de novo. Pode ser só brincadeira, você sabe.
  Ninguém sabe, eu lá vou saber.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

terça-feira, 8 de maio de 2012

Algo sobre um mundo paralelo


Escrito em: 08/05/2012

  Dessa vez eu deveria só ter ouvido a razão, deveria ter feito o que ela dizia, deveria ter deixado de lá a esperança e ter me contentado com a realidade. Eu quis sonhar, eu quis voar, eu quis cair. Não que a queda tenha sido muito alta, não tive tempo de voar tanto assim, mas ela também doeu. Um pouco, lá no fundo. Eu deveria ter fugido deste mundo paralelo que criei, deveria ter vivido o que o mundo podia me oferecer.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

sábado, 31 de março de 2012

I Hope We Can Still Be Friends After All


Escrito em: 31/03/2012

  Não pedi pra tudo acabar assim, era tão simples, não complicado. Porque tem que dar sempre tudo errado? Não que eu queira voltar no tempo, fazer tudo certo, fazer tudo errado, tentar mudar as coisas. Não adianta, eu já me acostumei com a situação, eu só preciso me convencer de que assim será melhor.
  Eu sabia que aquelas palavras eram pra mim assim que vi, não existia uma outra pessoa que sentisse tanto quanto eu. É triste colocar uma marca que ficará pra sempre, depois de algo que beirou o sempre. E mesmo depois de ter feito tudo o que pude, que você não considerava o suficiente, depois de me convencer de que eu tinha quase chegado lá sozinha, ainda resta um pouco de dúvida, uma insegurança, um sentimento de que não fui capaz de chegar ao fim.
  Talvez seja mais um problema comigo mesma, talvez ainda seja um problema com você, talvez eu precisasse que você me dissesse que tudo ia finalmente acabar.
   Não dá para apagar a memória.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

segunda-feira, 19 de março de 2012

Segundo Andar


Escrito em: 2011

  Estranho seria se eu não reparasse em você, olhos distantes, caminhando pelo corredor; desviam-se para o lado, não havia pensado. Sorria como se fosse sem por quê.
  Não importa minha rima, poeta da letra que te falar; se soubesse das letras, sorri. Caminho para o segundo andar.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

quinta-feira, 15 de março de 2012

O importante é lembrar

Sinto muito a sua falta Rebecca, gostaria muito de ainda poder brigar com você por estragar meus sapatos, agradar você de madrugada com dó de te ver sozinha, sentada na sua caminha sem fazer nada ou então só sentir o quanto você gostava da gente, que chegava correndo, abanando o rabo e logo deitando, esperando por um agrado. Eu nunca vou te esquecer, minha beckynha, e isto escrevi me lembrando de você.


Escrito em: 12/03/2012

  Nós não sabemos o que acontecerá no dia seguinte, por mais pessimista que seja, certas coisas nem passam pela nossa cabeça. Nem imaginamos o que pode acontecer uma semana depois, um dia depois, o que vai acontecer nos próximos minutos. Tudo pode mudar, independente da ocasião, da pessoa, do sentimento.Tudo pode desabar, tudo pode melhorar. Depende do fato, do destino, do que está sentindo ou pensando, até mesmo não pensando.
  Não tenha medo do futuro, nem fique querendo mudar o que já passou, não dá pra voltar atrás, só pode tentar mudar as coisas do agora, enquanto é tempo, e se não dá pra mudar ou se já cansou de tentar, tente aproveitar o melhor daquele momento ou pensar em outra coisa que não te faça sentir mal, se for do seu estilo, aproveite os momentos ruins para chorar ou gritar.
  A vida é feita de coisas passageiras, as vezes deixamos de aproveitar algumas delas, mas o importante é  lembrar depois de tudo aquilo e pensar que tudo te fez mudar, ser a pessoa que você é.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Lembranças de Você


Escrito em: 21/02/2012

  O que eu deveria fazer? Se sonhei com você, pensei em você, ouvi a nossa música, quase chorei; talvez por que aquele foi o melhor sentimento que um dia já tive. Eu deveria só pensar, só sonhar, só chorar? Não tenho coragem de te falar, nem sei mesmo se nossa intimidade ainda existe, se todos os segredos que te contei ainda são algo pessoal, algo que contaria apenas para um melhor amigo meu.
  Eu deveria só esquecer? Fingir que nada nunca existiu, ignorar o fato de que um dia já amei, pensar que existirá um alguém pra mim e que não é você. Talvez te mandar uma carta, relembrar os bons tempos, pensar que deveríamos continuar a ser amigos, talvez te deixar viver a sua nova vida.
  Estragaria tudo? Nossa ainda amizade, nosso pouco contato, o que ainda restou de nós. Tudo voltaria? Duvido. Não pode ainda existir algo entre nós, o que se foi, passou, não posso lamentar pelo que sobrou. Se é que algo sobrou. São só lembranças de você.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Choro Auriverde


Escrito em: 11/02/2012

Encontro num tom fumaça
cheiro de licor, um grito de dor;
ouço no fundo desgraça,
democracia onde quem manda é o valor.

No rabisco de um artista,
belas palavras escritas;
maior respeito por anarquistas
reprovação da real conquista.

De joelhos imploro,
pessoas gritam em um tom sonoro;
nada que vejo condiz
com o potencial do nosso país.

Olhares de canto me atingem, singelo,
quando assumo verde e amarelo.
Como posso os retrucar
se a realidade daqui é roubar?

Como poderei me orgulhar
da maior pátria do mundo,
se olhando bem afundo
mal posso me expressar?

Se um dia tudo evoluir,
toda a sujeira sumir
e o músico puder sonhar
as pessoas gostarão de seu lugar.

Um sonho seria poder ver
o mundo inteiro reconhecer
o potencial deste lugar
que possui tanto para mostrar.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A Crônica da Garota e sua Bicicleta


Escrito em: 08/02/2012

  A pequena cidade não era algo que causasse ânimo nas pessoas, mas para a pequena Melanie era algo surpreendente, cheio de adrenalina, trajetos e surpresas. Rodava com sua bicicleta rosa, com rodinhas de apoio no pneu de trás e uma cestinha na frente, que ela não usava.
  Um sorriso em seu rosto demonstrava toda a sua curiosidade e empolgação. Ela acabara de aprender a pedalar, estava entusiasmada demais com seus feitos para notar que o sol estava indo embora e algumas estrelas já apareciam no céu.
- Melanie, vamos para casa agora.
  A pequena deu a volta e entregou a bicicleta para sua mãe. Ela havia descoberto três quadras, o mundo inteiro.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Vem e Vai


Escrito em: 01/02/2012

  Vem e vai. Sinto falta, não é ruim, não é bom, mas faz valer, é alguma coisa. Vem e vai, esse sentimento silencioso que me pega repentinamente, traduz tudo em um só olhar. Vem e vai, esse olhar distante, o sorriso de canto, o medo de tudo transbordar. Vem e vai, turbilhões de pensamentos, o frio na barriga, nada menos que lentos.
  Vai e vem, memórias, boas lembranças, amores de uma infância. Vai e vem, passado, bons momentos, todos calados. Vai e vem, desvios, arrependimentos, sorrisos fechados. Vai e vem, a dor, o amor, a cor. Vai e vem, olor, charme, lábios. Vai e não vem.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Relato da Noite


Escrito em:04/01/2012


 Quatro e trinta e três, um copo de coca-cola, Blind do Lifehouse. Listras laranjas, amarelas e brancas, ousam perturbar minha calma, escondem flores coloridas, flores de praia - gosto delas. When my love for you was blind. I loved you more than you'll ever know. Meu coração bate meio desacelerado, talvez eu tenha melhorado. I want to feel you, I need to hear you. Cabelo despenteado, meus olhos encontram uma caixa preta, é do meu tênis novo. And how can I stand here with you and not be moved by you?
 Quatro e quarenta, ainda não consigo me acalmar, risco meu queixo sem querer. Conhece a música original dessa versão? Imagino meu semblante na noite passada, sentado ao lado da tomada com um sorriso no rosto, havia recebido uma mensagem, eu também havia pensado. A música me lembra outra pessoa, ele não irá, como sempre fez. Dói, não é? You and I wouldn't change a thing. Preciso encontrar um vestido.
 A história da garota que não sabia contar piadas.

                                                                                  Melissa Ribas Moura