quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A beautiful day to die

 Sangrava. Como uma veia arrebentada e de lá escorria, vermelho e forte. Já não conseguia enxergar, tudo a minha volta se embaçava. Era assim que me sentia.


Escrito em: 09/2012

- Te desafio a ir lá agora!
- O que eu ganho com isso?
- Depois você pode escolher, mas tem que entrar sozinho.
- Não tenho medo.
 A aposta mais fácil de ganhar que já participaria. Caminhamos até o lugar. A noite estava quente e o céu aberto, as estrelas gritavam palavras não compreendidas. O quintal da frente possuía muitas pragas e o mato alto estava seco, obra do calor que fazia. Abri o portão que estava enferrujado e rangiu.
 Entrei e percebi que o lugar estava caindo aos pedaços, não possuía cômodos e sua arquitetura era antiga. Caminhei até a escada de madeira grossa e escura. Minha lanterna falhou e cada degrau que eu subia parecia ser mais barulhento, parecia diminuir a temperatura e me provocar calafrios. Presença que descia com intensidade e por todo meu corpo percorria.
 Cheguei ao segundo andar e não me senti muito bem. Não por medo, pela sensação causada pela menor temperatura e pela poeira depositada em todos os cantos. Ele havia chegado.
 Sangrava. Como uma veia arrebentada e de lá escorria, vermelho e forte. Já não conseguia enxergar, tudo a minha volta se embaçava. Era assim que me sentia.
 Não sabia se aquilo era a realidade. Prendia-me na dúvida entre uma aventura que a bebida havia me proporcionado ou o simples fato de vivenciar da brincadeira de um submundo que surgia, de uma besta que ultrapassava as grades do inferno e as regras da normalidade, uma aberração do mundo que se conhece.
 Minha perna estava quebrada e eu não conseguia olhar, eu sabia que meu osso estava exposto e eu não conseguia olhar, só conseguia pensar em tentar não desmaiar.
 Da presença que me ultrapassara eu tinha ciência. Era tudo tão real quanto a própria vida, pelo menos em minha memória não tão sã. Aquilo era a morte que acordava para brincar.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

Um comentário:

  1. Nossa, que leitura intensa!

    Gostei da profundidade da sua narrativa e dos detalhes que nos passa.

    Muito bom.

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