sexta-feira, 31 de maio de 2013

Se o tempo falasse


Escrito em: 31/05/13

Em meu íntimo eu sabia que as coisas que haviam passado ficariam para trás, porém, meu espírito saudosista gostava de guardar aquelas momentos na memória. É engraçado. Não havia me dado conta de que as coisas acabam. Eu queria mais. Era uma noite serena, fria, clara. Estava tudo calmo.
          Ao caminhar, comecei a perceber o mundo com olhos diferentes. Eu já não era mais a mesma pessoa de antes, eu tinha certeza. Se havia algo que poderia agradecer, fosse para quem fosse, era por ter me mudado, mesmo que sem querer, mesmo que por um acaso. Havia algo de esperança, algo de menos frio dentro. Eu sentia.
           Algo de menos triste, algo que eu deveria saber como é muito antes. Algo que o mundo talvez tivesse tirado de mim, ou talvez eu mesma, em uma tentativa de não doer. Daqueles dias, eu poderia lembrar. Haviam coisas boas para lembrar, as coisas que me mudaram. Não que tudo houvesse mudado, não. Era algo pequeno, mas que me lembrava de como era quando as coisas eram mais simples, que me fazia lembrar de como era não pensar tanto. Da lua, vasta, já não tão dilatada.
         Quando me deparei entre aqueles que gostava de encontrar, finalmente extasiada, finalmente livre e talvez até mesmo realizada com o tempo decorrente, comecei a me perguntar se era possível ver o quão havia mudado. Corria o ar despreocupado. Vagava por entre a imensidão da noite o que havia esquecido, o que me deixava querer ser quem eu era agora.
Se o tempo falasse, ele sorriria, de ver que se é aproveitado, por mostrar o que há em cada um guardado. Por guardar um sorriso dado ou um beijo roubado. Por lembrar de você e até do tempo em que tudo ficou calado. Silêncio.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Amor e Suicídio - 4º Capítulo

Se você não leu o primeiro capítulo: Amor & Suicídio - 1º Capítulo
Se você não leu o segundo capítulo: Amor & Suicídio - 2º Capítulo
Se você não leu o terceiro capítulo: Amor & Suicídio - 3º Capítulo


Amor e Suicídio

Capítulo 4.

   Das minhas lembranças dele, apesar de ter tentado de todas as formas possíveis esquecer, eu ainda me lembrava das nossas brigas, o tempo do nosso relacionamento onde as coisas não pareciam funcionar. Não das brigas bobas que todos os casais têm, das brigas reais que, ainda não sei como, não acabaram com nosso relacionamento. Talvez fossemos feitos para ficar juntos no final das contas.
   Uma lágrima escorreu de meu rosto somente ao pensar em nossos momentos difíceis. Foi tudo tão difícil que apesar de não ter acabado com o nosso relacionamento, acabou com as nossas vidas.
   Tolo! Ele só podia ser um idiota, o meu idiota. Eu havia avisado ele assim que eu percebi, mas talvez a decisão não coubesse a mim, não é?!
   Não poder tomar por ele aquela decisão foi a coisa mais difícil que tive que enfrentar, eu realmente queria que ele fosse forte e que me ouvisse, confiasse em mim que eu sabia o que era melhor para nós. Quando o assunto de outra pessoa te afeta e você se importa com essa pessoa, você quer ajudá-la, mas algumas situações não te permitem isso.



- Escuta, Cass, não é o que você está pensando.
- O que é então? Christian, eu sabia, eu desconfiava. Por que você nunca me contou? Eu posso te ajudar.
- Não é simples assim.
- Você tem que parar com isso. Agora.
- VOCÊ NÃO SABE DE NADA, NÃO SABE COMO É SE SENTIR ASSIM, FIQUE QUIETA. Você não tem ideia do que está falando.
- Não fale comigo assim, Christian Makhlouf!
   E então ele me bateu. Aquela foi a primeira vez que o vi tão sério e tão irritado, mas eu não podia dizer que ele estava sendo ele mesmo. Não o culpei pelo o que aconteceu aquele dia, por ter me batido.
   O que não posso negar é de que eu sofri por aquilo. Me entristecia vê-lo daquele jeito, ao estado em que havia chegado, ficava cada vez mais difícil me aproximar dele e o tempo não ajudava. Foi tudo muito rápido.
Não consegui sair de casa por um tempo, não falava com ninguém, a não ser Christian. De alguma forma ele continuava me ligando, mesmo após cada cena que se repetia. Ele nunca me pediu desculpas pelo que fez. Eu nunca o lembrei.
   Com o passar do tempo nos tornamos próximos que estavam longe, exatamente o oposto do que aconteceu com a gente no começo. Como havíamos chegado aquele ponto? Digo, era algo que eu jamais imaginaria que poderia acontecer, parecia ser algo longe das minhas expectativas de vida. Se é que poderia chamar aquilo de vida.
   Apertei a arma em minha mão com os olhos fechados.
- Vá para o inferno, Christian Makhlouf!
   Atirei. Ainda ofegante e com o rosto todo molhado, abri meus olhos e observei a sala. Eu havia acertado a parede.
   Minha mente ficava repassando todos aqueles dias tristes, todas as vezes que ele gritou comigo e as semanas que ficou sumido. Só eu sabia a dor que era esperar por alguém que desaparece sem te dar nenhuma satisfação. Hoje eu sei o que ele fez por todo aquele tempo, mas na hora parecia algo demais para que eu pudesse aguentar.
   Eu sentava na sala quando voltava da faculdade e ficava esperando uma ligação. Ficava esperando que, depois de tudo o que passamos, não fosse apenas ignorada. Que todas as vezes que disse que me amava não tivessem sido apenas uma enganação.
   Foram dias praticamente sem dormir, no sofá, só porque ficava do lado do telefone. Sem conseguir prestar atenção direito nas aulas, sem dar atenção a ninguém. Eu gostava de sofrer calada, não devia satisfação a ninguém e contar tudo o que eu estava passando só me faria perder tempo sem ser compreendida e fazendo com que tudo parecesse doer mais do que já doía.
   Em meu bolso eu carregava o cartão de quando eu havia conhecido ele. Se ele não gostasse de mim, ele devia ao menos me dar a satisfação, não? Ele havia feito isto com Claire, por que não poderia fazer comigo? Sei que ainda iria doer, mas talvez parasse com o tempo. É melhor do que ser ignorado.
   Ainda não tenho certeza se eu queria realmente ter conhecido ele.