segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Movimento retrógrado


 Escrito em: 29/10/2012

 Lembrava-me das muitas palavras já ditas, que embora acabadas, não haviam morrido para mim. Palavras permaneciam em minha memória de um modo que somente eu poderia saber, algumas frases já decoradas, outras guardadas com um carinho não mais explicado.
 Lembrava-me também de alguns olhares escondidos, do que para os outros era desconhecido, do que por vezes se tornava um perigo, se tornava uma aventura de risco.
 Lembrava-me do acontecido, do segredo sem sentido, do que eu queria ter esquecido. Lembrava-me das coisas que eu gostava de lembrar, das coisas que tornavam tudo mais divertido, do seu sorriso.
 Lembrava-me de tudo, menos do que eu deveria lembrar. Lembrava-me da pessoa que eu conheci, menos da que eu descobri ser. Lembrava-me de todas as partes boas que aconteceram, lembrava-me de tudo o que era positivo, menos do fato de que quem eu conheci era um néscio enrustido.
 Pensava sobre as coisas que eu poderia fazer, sobre coisas que eu poderia dizer, menos no que eu deveria calar, no que eu deveria deixar. Pensava no que eu queria que fosse, menos no que realmente era e eu jamais conseguia me convencer de que eu simplesmente não deveria fazer mais nada.
 Quando meu saudosismo deveria apenas deixar eu convencer-me de que escrever palavras que descreveriam quem conheci e imaginar uma forma de como lhe extinguir em uma nova história apenas aparentaria contradizer o que eu devo de fato sentir por você.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Just die


Escrito em: 22/10/2012

 A respiração estava ofegante e eu podia sentir que seu coração batia rápido. Era tudo tão simples, ou pelo menos parecia. Passei a mão na cabeça. Observei.
A vida passava como um piscar de olhos e eu podia imaginar todas as lembranças de coisas que aconteceram, todas as esperanças de coisas que estavam para acontecer e as expectativas. Objetivos de vida, tudo tão concreto, tão forte.
 Não era assim que as coisas deveriam ser. Deveria existir suspense, desafios, surpresas que fariam as coisas se tornarem mais emocionantes.
 Um grito percorreu toda a casa desesperado por ajuda, implorando para não perder tudo o que havia construído. Tudo tão concreto. Tudo tão concreto que perdia seu sentido. O que eu fazia era para o seu bem, mas parecia que eu não merecia compreensão.
 O mundo é mais belo com seu sono profundo.

                                                                                  Melissa Ribas Moura

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A beautiful day to die

 Sangrava. Como uma veia arrebentada e de lá escorria, vermelho e forte. Já não conseguia enxergar, tudo a minha volta se embaçava. Era assim que me sentia.


Escrito em: 09/2012

- Te desafio a ir lá agora!
- O que eu ganho com isso?
- Depois você pode escolher, mas tem que entrar sozinho.
- Não tenho medo.
 A aposta mais fácil de ganhar que já participaria. Caminhamos até o lugar. A noite estava quente e o céu aberto, as estrelas gritavam palavras não compreendidas. O quintal da frente possuía muitas pragas e o mato alto estava seco, obra do calor que fazia. Abri o portão que estava enferrujado e rangiu.
 Entrei e percebi que o lugar estava caindo aos pedaços, não possuía cômodos e sua arquitetura era antiga. Caminhei até a escada de madeira grossa e escura. Minha lanterna falhou e cada degrau que eu subia parecia ser mais barulhento, parecia diminuir a temperatura e me provocar calafrios. Presença que descia com intensidade e por todo meu corpo percorria.
 Cheguei ao segundo andar e não me senti muito bem. Não por medo, pela sensação causada pela menor temperatura e pela poeira depositada em todos os cantos. Ele havia chegado.
 Sangrava. Como uma veia arrebentada e de lá escorria, vermelho e forte. Já não conseguia enxergar, tudo a minha volta se embaçava. Era assim que me sentia.
 Não sabia se aquilo era a realidade. Prendia-me na dúvida entre uma aventura que a bebida havia me proporcionado ou o simples fato de vivenciar da brincadeira de um submundo que surgia, de uma besta que ultrapassava as grades do inferno e as regras da normalidade, uma aberração do mundo que se conhece.
 Minha perna estava quebrada e eu não conseguia olhar, eu sabia que meu osso estava exposto e eu não conseguia olhar, só conseguia pensar em tentar não desmaiar.
 Da presença que me ultrapassara eu tinha ciência. Era tudo tão real quanto a própria vida, pelo menos em minha memória não tão sã. Aquilo era a morte que acordava para brincar.

                                                                                  Melissa Ribas Moura