segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Amor e Suicídio - Capítulo 5, Final.

Se você não leu o primeiro capítulo: Amor & Suicídio - 1º Capítulo
Se você não leu o segundo capítulo: Amor & Suicídio - 2º Capítulo
Se você não leu o terceiro capítulo: Amor & Suicídio - 3º Capítulo
Se você não leu o quarto capítulo: Amor & Suicídio - 4º Capítulo



Amor e Suicídio



Capítulo 5, Final.

   Gostava de guardar as boas lembranças, por isso chorava tanto. Eu lembrava daquele dia, provavelmente o melhor dia da minha vida. Meu véu cobria meu rosto e a saia do vestido caía por todo o tapete branco. Branco. Tudo era branco, as flores, meu vestido, meu véu, a decoração.
   Eu andava meio que tremendo e muito emocionada, sentia vontade de chorar de alegria, mas estragaria toda a minha maquiagem, naquele dia tudo me fazia chorar, meus amigos, minha família e lá estava ele, meu futuro marido.
   Me casei na praia, não foram todos os meus amigos e conhecidos, mas foi uma cerimônia perfeita, como sempre sonhei, com cadeirinhas brancas e todos sentados observando.
- Eu aceito.


   Minha maquiagem preta destacava meus olhos. Eu corria com o por do sol com meu mais novo marido, meu vestido molhava a barra na água e por isso eu segurava um pouco da frente, mas já estava todo molhado. Dancei ao som de músicas pop que gritavam em minha mente. Tudo era ao nosso redor, eu e ele. Era o nosso dia.
   Não lembrava de nenhum dos momentos ruins, pra mim ele era o cara perfeito naquele momento. Tínhamos altos e baixos, momentos em que queríamos nos amar e momentos em que queríamos nos separar. E como sempre, os momentos em que queríamos nos amar prevaleciam pela intensidade do sentimento. Parecia que o tempo passava como um clipe ou um filme de cinema com a música perfeita para o momento.
   Naquele dia, incrivelmente, não brigamos. Ele me levou até o quarto no colo, exatamente como nos filmes e passamos a noite juntos no apartamento dele, neste mesmo apartamento em que estou aqui. Neste apartamento, onde tudo aconteceu.

   Então me veio a memória os momentos ruins, os dias em que me ameaçou, em que quase me bateu, ou no dia em que bateu. Ele era descontrolado, não sabia lidar com a bebida.
   Bêbado ele parecia outra pessoa e eu não gostava dessa pessoa. Queria ter coragem de chegar e controlar ele, mas eu era muito fraca e meu amor me dizia para só aguentar o que escolhi e fingir que nunca aconteceu. Pelo menos ele nunca me deixou nenhuma marca.
Como eu poderia ficar contra quem eu amava? Como eu conseguiria dar um basta nas ameaças e lutar contra ele? Era quem eu amava. Nunca soube lidar com isso, tentar ir contra o amor.
   Uma lágrima escorreu e caiu na minha mão, observei a lágrima caindo no revólver e em instantes me lembrei do que estava fazendo ali.
   Peguei um retrato de nós dois na estante, perto da televisão. Observei. Sorrisos. Agora não era mais tão divertido.
   Pensei em ir no túmulo dele chorar, mas eu não precisava de um lugar melhor que o apartamento dele, que um dia foi nosso. Eu não queria mais chorar, eu queria outras coisas, eu queria morrer. O que ia adiantar chorar? Não tiraria ele daquele túmulo. Não voltaria no tempo. Não faria eu mostrar para ele em que caminho ele estava entrando, que daquele caminho não tinha mais volta. E então, ele morreu, morreu com uma garrafa na mão.
   Minha mão estava deslizando de suor pelo revolver, o que me fazia brincar com ela pela minha mão.
   Eu odiava a bebida, odiava que tivesse tirado ele de mim. Odiava que isso existisse, não queria mais ver bebida alguma por perto, se não eu acabaria exatamente como ele. No entanto, eu estava decidida, com bebida ou sem bebida eu queria me matar.
   Coloquei a arma na minha cabeça. Comecei a lembrar de tudo, das rosas, do parque de diversões, das brigas, do nosso namoro, do casamento breve que tivemos. Dos meu choros no hospital, quando vieram me dar as más notícias. Eu já sabia que ele não sobreviveria, eu sabia que ele havia exagerado nos seus gostos. Agora eu era uma mulher só, já havia perdido o marido e perdido contato com a melhor amiga. O que sobrava para mim?
   A vida é tão breve e eu posso decidir e optar por te a minha vida ou não. Aquele dia era minha a decisão.


                                                                                  Melissa Ribas Moura

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