quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Amor & Suicídio


Amor e Suicídio

Prólogo.

   Eu nunca pedi para me apaixonar, nunca pedi para nem nascer. Ninguém nunca me ensinou a o que eu deveria fazer se me apaixonasse, com apenas dezoito anos, uma criança. Não que agora eu seja uma adulta, mas parece tanto tempo, tanta diferença.
   Nunca ninguém me ensinou a o que fazer se esse amor continuasse por mais três anos, nunca ninguém me ensinou a resolver um problema. Nunca ninguém me ensinou a enfrentar a solidão e o sofrimento.
   Ninguém nunca me disse que o amor ia demorar tanto e ao mesmo tempo seria tão rápido, como o frio; De manhã tão impreciso e imprestável, que com o tempo vai parecendo mais demorado, mas quando chega a noite você já está na cama e está na hora de dormir, quente sob seus cobertores e o que aconteceu até agora já não importa mais, não importa se demorou tanto, mas sim que já acabou e o amanhã será outro dia, e não importa se será parecido com o hoje, mas que será amanhã.
   Nunca ninguém me ensinou a viver, mas mesmo assim eu estou vivendo. Nunca ninguém me ensinou a ver o futuro, mas ele, eu já sei.







Capítulo 1.


   Eu já sabia que hoje estaria aqui, que morreria. Não posso culpar a ninguém, nem a quem me deu o motivo para morrer, pois foi eu mesma que decidi isso.
   Christian, eis a causa da minha depressão, mas também foi o causador dos momentos mais felizes que tive, ainda me lembro de seus olhos verdes tão claros que às vezes pareciam azuis, de seu cabelo preto um pouco comprido e liso. Ele me fazia derreter todas as vezes que o via, e fez sempre isto, até a última.
   Lembro de quando o conheci, naquela tarde quente, um belo dia em que o vento denso e pouco forte batia em meu rosto e arrastava meu cabelo longo.
   Eu carregava algumas pastas em minha mão e estava andando sem rumo entre as pessoas, estava tentando fazer qualquer coisa que não me fizesse chegar cedo em casa.
   Gostava de olhar os ladrilhos e pedras do chão, observar as diferenças, os formatos e figuras que faziam ou as vezes somente ficar olhando por onde estava andando.
   Então eu esbarrei naquele homem, ele se abaixou e começou a pegar as coisa que haviam caído da minha mão.
- Me desculpe moça.
- Me desculpe, foi culpa minha, eu não olho muito por quem estou passando, desculpa mesmo, devo estar te atrasando.
- Não, não, não está me atrasando e não foi nada, deixe-me te recompensar por isso.
   Comecei a pensar aonde ele queria chegar, nenhuma pessoa faria uma coisa dessas, era absurdo, ou ele estava interessado em algo ou ele era um rico querendo se livrar do dinheiro.
- Olha, a culpa foi minha, se alguém aqui deve algo sou eu.
   Ele abriu a maleta dele e eu fiquei imaginando o que ele tiraria dali, se fosse dinheiro, por boas maneiras, eu recusaria. Não que eu não quisesse mas eu também não precisava, e a culpa era minha.
   Então ele tirou uma rosa vermelha da mala dele e comecei a pensar em milhões de coisas diferentes.
- Então aceite isso e irá me fazer feliz, aposto que a você também.
- Ah, sim, obrigada.
   Eu peguei a rosa e fiquei meio envergonhada, ainda pensando no que ele fazia com uma rosa na maleta dele.
- Tenha um bom dia.
- Você também.
   E ele foi embora. Continuei andando até a minha casa pensando no que havia acontecido e aí eu percebi que não sabia o seu nome.
   Mas de que adiantaria eu saber o nome? Foi somente um estranho que esbarrou comigo na rua e me deu uma rosa.
   Aquilo foi estranho, um estranho bom. Se as pessoas fossem tão educadas como ele o mundo seria mais tranqüilo. Mesmo ele que parecia apressado para algo foi tão educado.
   Cheguei em meu apartamente e coloquei a rosa em um pequeno vaso transparente com água na cômoda do meu quarto. Percebi que dentro do plástico que envolvia a rosa tinha um cartão, e é claro que resolvi lê-lo.
Se descobri uma coisa sobre o amor,
É que não sinto isto por você, Claire.
                                                 Christian Makhlouf
   Mal eu sabia que aquele era o cara que melhoraria e depois estragaria a minha vida. Apesar de ser algo totalmente sem importância, aquilo ficou na minha mente a noite toda.
   Com certeza aquela rosa não era pra mim e então entendi o motivo dele ter uma rosa dentro da maleta, ou parte do motivo.
   Mas naquele momento aquilo não importava pois naquele bilhete tinha a informação que arruinaria a minha vida, e que alegraria ela como nunca também, fazendo a dor ficar pior ainda. Lá tinha o seu nome.
   De tantas pessoas, porque ele? De tantas vezes para ter azar, porque naquela hora?
   Quem sabe minha vida fosse normal se não tivesse descoberto coisa alguma sobre ele, quem sabe eu não estivesse aqui a ponto de morrer se eu nunca o tivesse conhecido.
   Mas uma coisa eu sei. Que devo ter feito algo horrível para ser castigada assim, neste vida ou em outra vida, se é que existe outra vida, ou deve ser o castigo que herdei de alguém da família.
   Eu não me lembro de nunca ter feito nada de mal na minha vida, a pior coisa que fiz foi procurar Christian Makhlouf. Mas se não tivesse feito isto, talvez nunca teria vivido em um mundo tão perfeito mesmo quando tudo dava errado. Nada que não envolvesse nós importava, nem fofocas envolvendo nós importava, se é que existiram, pois estava ocupada demais amando ele para prestar atenção nos outros. Os outros eram só os outros.
   Lembro de minha maldita sorte de encontrar seu telefone uma semana depois. Em toda a Nova York, porque tive esta tal sorte?
   Eu costumava chamar todas essas coincidências de sortes antes de tudo acontecer. Então aproveitei e liguei.
- Oi, é o Christian Makhlouf?
- Sim, sou eu, quem é?
- Não sei se você lembra mas eu sou a garota que esbarrou em você um dia... E aí você me deu uma rosa...
- Ah, sim, lembro, como conseguiu meu telefone?
- Tinha um cartão e aí eu descobri seu telefone...
   E enfim, foi assim que começou. Ficamos um tempo falando no telefone, não havia nunca limites de assuntos quando se tratava dele.
   Assim continuou por um tempo, eu ligava pra ele, ele me ligava, mandávamos mensagens, conversávamos por emails e todas essas coisas que hoje me parecem super nerds.
   Ele não morava perto de mim, por isso nós nunca saíamos e várias vezes nós estávamos ocupados com a faculdade e essas coisas.
   Ele tinha vinte e dois anos, parecia uma diferença até notável na época, já que ele era quatro anos mais velho que eu e estava terminando a faculdade.
   Eu comecei a gostar dele de um jeito nerd e ele de mim, então começamos a trocar palavras como “amor” e sempre mandar mensagens ou toques de boa noite.
   Dois meses depois a gente “terminou” o relacionamento que na realidade nunca começou. No começo eu achei que iria morrer até, mas então eu realmente percebi que aquilo nunca havia existido e nunca foi de verdade, que morávamos longe e deveríamos conhecer pessoas pra valer, afinal, ele estava na idade normal de casar e eu estava atrapalhando.
   Isto foi no fim do ano, então prometi  para mim mesma que começaria o novo ano diferente, esqueceria o que aconteceu e encontraria pessoas que gostassem de mim.
   Como fui tão estúpida achando que isso realmente aconteceria. Em um conto de fadas ou um filme que requer um final feliz provavelmente eu teria o que queria, encontraria um príncipe encantado e esqueceria o passado.
   Na realidade eu já havia conhecido o príncipe que não era tão príncipe e nem tão encantado. Ele era bonito, mas era um cara normal, do tipo que gostava de futebol, odiava poesias e músicas calmas e melosas e do tipo que não gostava de ficar falando muito de sentimentos.
   Ele era perfeitamente normal até se encontrar comigo, é claro. Quando estávamos juntos tudo era diferente, não importava coisas descartáveis como opiniões opostas. Havia respeito e até tínhamos mais para conversar sobre o ponto de vista se não pensávamos igual.
   Só contei para uma amiga toda a história, minha melhor amiga, quem acompanhou tudo e sempre me ajudou. Mas agora ela não estava mais aqui para impedir que eu me matasse.
   Sentei naquele sofá branco na sala espaçosa. Tinha uma lareira ali e tudo estava organizado, como se nunca nada fosse usado. Comecei a apertar mais forte o revólver ao meu lado, deitado sobre o sofá, enquanto caiam lágrimas de meu rosto lembrando toda a nossa história.

   Depois de ter passado minhas férias pensando, eu percebi que o que senti no inicio foi somente uma atração e eu não gostava de verdade dele. Eu percebi que então, depois, eu gostava mesmo dele e que precisava fazer algo.
   Não, eu simplesmente não fiz nada. Esta não é uma história de pessoas corajosas e totalmente apaixonadas a ponto de largar tudo para correr atrás do seu amado. Se era essa a história que você queria ler, sinto em lhe dizer que esta é a história errada para você e que deve procurar outra história.
   Eu continuei minha vida normal andando pelos mesmos lugares e fazendo as mesmas coisas. Até minha amiga me convencer a ir para uma tal festa que ia ter no centro da cidade, com DJ’s que, dizia ela, eram os melhores e lá só teria caras bonitos.
   Com certeza as pessoas seriam todas bonitas porque todos estariam bêbados, contudo, eu fui mesmo assim.
   Festas nunca me atraíram muito, mas aquele dia eu era uma típica jovem que adorava dançar e beber, uma louca. O que eu tinha a perder? A vida? Se não perdesse aquele dia, hoje estou prestes a perder mesmo, então tanto faz.
   Chegou uma hora em que eu estava tão bêbada que beijei o primeiro cara que me lembrava o Christian. Sorte a minha que ele também estava bêbado.
   Eu nem sabia o seu nome, mas naquela noite, aquela era a minha noite, então foda-se Christian Makhlouf.
   Só me lembro de acordar com uma dor de cabeça enorme e na casa de minha amiga depois daquilo.
- Você sabe o que fez ontem Cassadee Parker?
- O que eu fiz? Fora ficar bêbada e beijar aquele estranho?
   Aquela foi minha maldita pergunta. Antes que ela me respondesse eu peguei o cartão no meu bolso e li aquelas horríveis palavras.
- Sim Cass, você beijou o próprio Christian Makhlouf.
   E nem era uma sexta-feira treze ou o dia das bruxas para ter tanto azar, era somente o fim de setembro.
   Ele não sabia que era eu, ele me deu o seu cartão. Ele era sempre assim? Não podia. Eu não era sempre assim, só podia ser coincidência.
   Não liguei para ele, nem ele para mim. O que eu ia fizer? Perguntar se ele lembrava da bêbada que tinha beijado ele e dizer que era eu? Não, deixa isto para uma outra ocasião.
   Voltaram as aulas na faculdade e ele, provavelmente, estava começando os seus negócios. Tanto faz. Eu ia sair com um outro cara, esquecer ele.
   Fui me encontrar com ele em um restaurante chique. Ele não apareceu. Foi a noite mais legal da minha vida. Quem nunca quis levar um fora e jantar sozinho no meio de um monte de casais e escutar músicas românticas a noite inteira?
   Aquele dia sim eu liguei para ele, o que mais podia dar errado?

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